Dia 12/03/00 - Allen

Você se mantém na mesma posição paciente, virando o pescoço de tempos em tempos para cobrir angulos de visão melhores de cima da caixa de água do prédio, as gotas grossas de chuva batendo na sua máscara e escorregando pelo colant impermeável.

As ruas de Old Downtown, mesmo com um aumento crescente da violência, são brincadeira de criança próximas às patrulhas no Fosso. Mas o sangue Dele não lavou as ruas do Fosso... ele foi derramado em Old Downtown, você encontrará o responsável por aqui.

"Brincadeira de criança" ... o uniforme velho era a última coisa vítima desse comentário vindo da sua parte, e é a única coisa que você tem usado desde os últimos 3 dias. Métodos questionáveis de combate ao crime e muita pouca informação, mas a única coisa que consegue aliviar parte da sua dor e revolta é isso. O fogo no seu peito dói, e é o único combustível que você conhece por agora.

Lá de baixo, nenhuma atividade suspeita por enquanto. Você soca o chão, desejoso que alguém saia da linha. Alguém pra descontar a raiva, arremessar pelos cantos e reparar parte dos anos ignorando a sua habilidade de deter criminosos por motivos mais nobres. A chuva escorre pelo seu rosto, e você não tem certeza se está chorando ou não.

No Fosso, com certeza você já estaria espancando alguma gangue e podendo se entregar ao estado de não pensar para se esquivar de balas sem rumo certo e destruir oponentes despreparados.

Mas a máscara no seu rosto não é culpa do Fosso.
Ela é culpa de algo em Old Downtown, e é aqui que ela te obriga a ficar, sentado e esperando o momento certo...

... da mesma forma que ele faria.

Enquanto observava as ruas e vielas de Old Downtown, Allen lembrava-se da figura de Sean. Vinha à tona, logo em seguida, a lembrança recente e triste de seu funeral, em que ele tinha sido a única pessoa a prestar homenagem ao falecido. Caiu uma chuva pesada naquele dia, como a que caía naquele momento.

"Todo o sacrifício que ele fez por essa cidade e o que eles deram em troca? O que... O que eu dei em troca? Se eu ao menos eu estivesse ao lado dele naquele dia...", pensava. O rancor e o arrependimento faziam uma mistura pouco saudável na cabeça naturalmente confusa de Allen.

"A única forma de recompensá-lo é continuar aquilo que ele começou, como ele queria que fosse, como deve ser. E eles vão pagar... Justiça vai ser feita essa noite...", pensava, enquanto lágrimas relutantes corriam junto às gotas de chuva no seu rosto, cada oração sendo pontuada por mais um soco na superfície áspera do teto da caixa de água.

Lembrou-se por um instante de um trabalho importante da faculdade que ainda teria que terminar, mas deixou rapidamente o pensamento de lado. Nunca antes havia faltado com seus compromissos na universidade. Esse, porém, já era o terceiro dia seguido de falta às aulas de física teórica, e a terceira noite que passava em claro. Com a exceção de poucas horas de cochilo, não tinha descansado de fato desde o funeral. Sentia agora uma leve fragilidade do corpo, aquela sensação que antecede a febre em algumas horas. Allen finalmente começava a dar sinais reais de fadiga.

Mas o cansaço, as aulas da faculdade e quaisquer outros assuntos agora eram irrelevantes. Não precisava de nada disso. Tinha tudo que queria no momento, e estava exatamente onde deveria estar, ou ao menos era assim que pensava. A raiva era forte suficiente para sustentar o seu corpo e os seus poderes e fazê-lo esquecer da importância de todo o resto.

"Nenhuma atividade suspeita por aqui. Vou procurar outro ponto de observação", pensou. A mão que antes havia socado a superfície em que ele se apoiava agora se espalmava sobre ela, enquanto Allen permanecia agachado com as pernas flexionadas. Num único impulso realizado pelas pernas e o braço, Allen saltou para o alto e alçou vôo, mantendo uma distância segura do chão para não ser visto. A chuva pesada que caía e o seu uniforme negro o escondiam na noite.

Voando em meio a noite, passam pela sua cabeça possíveis locais onde você poderia conseguir informações sobre o que aconteceu com Sean. Alguns dos informantes dele, já consultados, já se provaram de pouca ou nenhuma valia, já que normalmente delatavam problemas nos próprios ambientes, não na vida do herói. Você tenta se lembrar do lado detetive que todo herói deve ter, sem dúvida o mais difícil de masterizar, esperando achar algo na sua cabeça que te ajude a ter um fio pra seguir e encontrar o culpado.

Lá embaixo, a cidade se mantém agitada, um gigante de fumaça e neon lutando contra a água que cai do céu. Você sente o corpo pesar, por conta da chuva, e algo no seu peito parece cansado demais para protestar contra um descanso. Talvez seja hora de dormir...

Sua cabeça dói, e você nota que está vondo inconscientemente em direção ao seu apartamento. Possivelmente ficar de ronda a esmo não vai te ajudar muito.

Lá embaixo, você vê um carro furando o sinal e derrapando, mudando de pista de uma forma imprudente. Focando-se nele, você pesa a situação. Ele está indo para a área central de Old Downtown, já próxima a um batalhão de polícia local. Seu corpo está ligeiramente febril, sua cabeça dói, e seus olhos começam a pesar mesmo em meio a chuva.

Uma tosse em meio aos segundos que você leva pesando a situação te lembra que você, mesmo voando e com um treinamento invejável, ainda é um ser humano.

Um ser humano sendo levado aos extremos, por 3 dias seguidos...

Após voar por algum tempo a esmo, Allen finalmente notou o quanto estava cansado. "Não vou conseguir nada hoje. Estou acabado, preciso descansar um pouco ao menos", pensou. A febre e a raiva nublavam seu raciocínio, enquanto voava para casa de forma quase desengonçada.

Ao ver a imprudência do motorista os sentidos do jovem vigilante despertaram. "Para onde você pensa que vai?", pensou. Para Allen, uma pessoa dirigindo em Old Downtown àquela hora da noite poderia ser um motorista bêbado ou coisa muito pior. Como nenhuma das opções o agradava, decidiu interceptar o veículo. Sabia que, apesar da exaustão e do fato daquilo provavelmente não ter nada a ver com o motivo que o tinha levado até ali, ele não poderia simplesmente deixar aquilo de lado. Algum inocente poderia se machucar, não era certo.

Então, Allen desceu em direção ao veículo, ficando próximo a ele, quase rente ao chão. Na descida, uma breve crise de tosse quase interrompeu a sua concentração, que já estava perturbada devido à dor de cabeça que começava a incomodar de verdade. Os olhos ainda lacrimejavam, mas agora de cansaço, e não devido ao choro, e a sua visão ficava ainda mais atrapalhada com a chuva.

"Espero realmente que você seja só um bêbado encrenqueiro", pensou. Cerrou e rangeu os dentes, esticando os braços e as palmas das mãos em direção ao veículo, tentando usar seu poder telecinético para interromper seu movimento aos poucos e erguê-lo do chão. Tal façanha normalmente exigiria de Allen um esforço considerável. Na situação crítica em que estava exigia muito mais do que isso.

[OFF: mesmo podre do jeito de que ele está, ele vai tentar. XD como você já tem a ficha aí, fica à vontade para rolar quaisquer testes necessários. Gogogo, Allen! o/]
[OFF2: preciso conversar com você depois a respeito do codinome dele, que é o mesmo do Sean, obviamente. ^^]

Rolagens:

1- Allen - Telekinesis (DC 20)

O membro 'Yy' realizou a seguinte ação: Lançar dados

'd20' :

Resultado : 8

Let me see how bad it is, k?

1- Moeda \o/

O membro 'Yy' realizou a seguinte ação: Lançar dados

'Moeda' :

Resultado :

Você desce, tossindo e desajeitado, e tenta freiar o carro com sua habilidade telecinética, erguendo-o no ar com seus poderes.

Normalmente, uma tarefa pouco complicada, mas realmente difícil em meio à chuva e com as condições atuais do seu corpo. O carro levanta em parte, mas derrapa com os dois pneus da direita colados ao chão e não vira por muito pouco, parando à sua frente enquanto você se recompõe e sacode a cabeça, tentando se focar denovo.

A porta voa com um estalido enquanto você anda até o carro, fruto do seu poder. Você se questiona se isso foi ou não necessário, mas a pressa em resolver aquilo e ir embora é maior. Andando até o carro você imagina a melhor maneira de grudar os desgraçados em uma parede e qual rota vai usar dali para casa após punir um pouco da escória.

Andando até o carro, seus ombros se esticam mais e seu corpo se retesa, mantendo a atitude mais ameaçadora que você sabe fazer. Olhando com um rosto frio pela janela, você espera trespassar a óbvia impressão que qualquer um teria do farrapo humano debaixo da máscara clamando por descanso. A chuva, a luminosidade e seu instinto de violência à flor da pele parecem ser maquiagem o suficiente.

Lá dentro, um homem completamente aterrorizado ao volante, tentando desesperadamente ligar o carro e alheio ao motor inutilizado pela bolha cinética que ergueu parte do veículo. Mas sem valores, máscaras ou armas...

Do banco de trás, você vê uma mulher de vestido, segurando a barriga imensa e parecendo respirar com dificuldade. E, novamente, olha o painel do carro irremediavelmente inativo...

Ambos olham para você, expressões de terror nos rostos...

Ao observar o casal pela janela, Allen ficou sem reação durante alguns segundos, enquanto observa a respiração ofegante da mulher sentada no banco de trás do carro. O susto que teve ao se deparar com aquela situação e o pensamento inquietante sobre mal que estava fazendo àquelas pessoas naquele momento faziam a sua cabeça girar.

- N-não se preocupem, eu... Vou levá-los ao hospital mais próximo - disse em um tom de voz calmo e menos ameaçador possível, quase sem graça. Suspendeu o carro a uma altura razoavelmente segura e rumou para o hospital mais próximo daquele bairro, esperando poder chegar a tempo e não causar mais nenhum transtorno para aquelas duas pessoas.

Enquanto conduzia o carro, Allen procurava ficar atento a qualquer reação dos ocupantes do veículo. Resolveu que não tiraria os dois ocupantes de dentro do carro, para não perturbar ainda mais o equilíbrio emocional que a situação da mulher exigia. Já havia feito mal o suficiente. Nenhum pensamento passava na cabeça do jovem e inexperiente vigilante. Ele só queria que aquela noite acabasse.

[OFF: ]

Rolagens
1- Allen (Constitution)

O membro 'Yy' realizou a seguinte ação: Lançar dados

'd20' :

Resultado : 8

Você ergue o carro no ar e voa sobre o tráfego, o veículo tremendo no ritmo do seu corpo e gritos se misturando à todo o barulho da cidade acima, abaixo e aos lados. Voando pela rodovia você consegue chegar em um hospital em tempo hábil, e pousa o casal gentilmente, tossindo e olhando as pessoas absortas ao seu lado. As luzes, o barulho, as pessoas correndo para longe, os enfermeiros correndo para perto, tudo se mistura, e as cores da mistura logo são sugadas pela gravidade incrivelmente alta. Seu corpo pesa chumbo e cai...

A noite... acabou...

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- Ah!

O grito sai do seu peito enquanto você acorda, sentindo os fios e amarras frouxas da cama o segurando, o pescoço a alguns centímetros do colchão. Um quarto de hospital, limpo e sem muito movimento ao fundo. Maquinas monitorando seus batimentos, soro pingando, um quarto particular com uma TV desligada e espaço próprio para fisioterapia. Coisa de gente rica, que te deixa intrigado enquanto você acaba de acordar e avaliar o local. As amarras, mesmo firmes e maleáveis, não são páreo para os seus poderes. Com algum trabalho você poderia se livrar delas mesmo sem eles.

Um homem de guarda pó, estatura acima da média e cabelos ruivos presos atrás da nuca abre a porta calmamente, detendo o olhar em você. Ele se mantém firme, e o olha nos olhos, lembrando alguém que se aproxima de um homem com uma arma já engatilhada.

- Bom dia senhor... você... está bem? - A voz é pausada e cautelosa, mas ele parece ter limpado bem qualquer vestígio de medo dela.